Mesmo entre os discípulos de Jesus houve aqueles que não conseguiam entender a mensagem do mestre. O pedido de Tiago e João em Marcos 10,35; deixa clara a falta de sensibilidade dos seus para com a mensagem da boa nova da salvação. Um pouco antes Jesus já havia dito que não haveria um primeiro ou aquele que teria méritos maiores que os outros entre eles. Quem quiser ser o primeiro, que se torne o ultimo e seja servo de todos (Mc 9,35).
Esta perícope nos remente ao que vivemos hoje em dia, a meritocracia, tão falada e amplamente utilizada principalmente em nossa sociedade atual, onde não importa se as pessoas tiveram oportunidades iguais, se este estudou em escola publica e o outro em escola particular, onde o ensino é mais aplicado; o que vale é chegar na frente, entregar no prazo e fazer mais, alcançar objetivos sociais e profissionais através dos seus próprios esforços. A origem etimológica da palavra meritocracia vem do latim meritum, que significa “mérito”, unida ao sufixo grego cracía, que quer dizer “poder”. Assim, o significado literal de meritocracia seria “poder do mérito”. Mas, numa sociedade tão desigual como a nossa será mesmo que meritocracia é boa? Imaginemos uma pessoa negra, nascida em uma das muitas favelas do Brasil, filho de mãe solteira que aos doze anos de idade teve que começar a trabalhar para ajudar no sustento da família, sua mãe doente e seus oito irmãos. Será que essa pessoa conseguirá atingir o mesmo patamar daquele jovem branco, de classe médica que teve oportunidade de terminar seus estudos, fazer um cursinho pago pelos pais, prestar um vestibular em uma universidade publica e ter garantido moradia e alimentação pelos pais até o fim do curso, sem precisar trabalhar? É importante perceber que entre esses dois jovens existem uma grande diferença, e neste caso, meritocracia não se encaixa. Com certeza alguém vai dizer que se o jovem negro realmente quisesse, ele poderia ir atrás dos seus sonho como muitos outros em igual situação fizeram. Mas, posso afirmar que são bem poucos, nesta situação, que realmente conseguem, porque as oportunidades não são iguais, os meios não são os mesmos. Esta passagem desconstrói toda a cultura de meritocracia, tão elogiada em nossos dias, que tem sido causa de exclusão especialmente da população mais pobre. Jesus vai contra a lógica do sistema de sua época quando afirma: Entre vocês não será assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vocês, que se coloque a serviço dos outros (10,43). Jesus utiliza a palavra diakonia que quer dizer serviço, esse tipo de coisa era utilizada para as mulheres que na sociedade machista dos judeus, era considerada inferior ao homem, escravos também deveriam servir. Essas palavras de Jesus devem ter chocado seus discípulos e ouvintes a época. Não era comum, esse grau de humildade, a pergunta de Tiago e João reflete exatamente o egoísmo e o individualismo tão presentes em nossas instituições de hoje. O Evangelho levanta uma problemática tão atual agora quanto na época. Em dois mil anos de cristianismo continuamos ver aqueles que querem se sentar na frente, que desejam os melhores lugares e os maiores benefício, não preocupando com os outros. Embora eu não seja nordestino, mas, tenho alguns amigos e conhecidos que sempre brincam, pouca farinha meu pirão primeiro. Percebemos assim o quanto está no Movimento de Jesus nos exige, o quanto ainda precisamos como sociedade, igrejas e grupos mudar nosso modo de pensa e agir e o quanto precisamos ser mais solidários. Jesus apresentam uma nova proposta para nós, ele inverte a lógica do poder e propõe um caminho mais igual para todos, mais justo, onde não se permite o egoísmo onde servir se torna o grande caminho ao Pai. Onde o Reino não é físico e sim espiritual, interior e gratuito a todos. Um Reino onde quem quiser ser o primeiro terá que servir o outro, onde todos são servos.
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Nem sempre aquele bom mocinho que se passa de bonzinho, que aparece como o salvador da pátria, e promete trazer justiça, moralizar a sociedade e trazer equilíbrio pode ser este tão esperado “príncipe da paz.” O médico e psicanalista alemão Wilhelm Reich em sua tese sobre a peste emocional descreve muito bem o comportamento das massas diante de situações, como a qual estamos vivendo atualmente no cenário politico do brasil. A peste emocional geralmente aparece velada, por trás de boas intenções, no intuito de ajudar o outro e a sociedade. No entanto, com o passar dos tempos, a pessoa acometida por essa “doença”, vai invadindo todo o espaço como uma erva daninha invade uma plantação ou um câncer que invade um organismo vivo, dominando tudo o que está ao seu redor. A grande maioria das pessoas deve ter acompanhado ou ao menos ouvido algo a respeito do trágico acontecimento do dia 11 de setembro de 2001, que assolou os Estados Unidos e apanhou de surpresa um país que se julgava seguro e intocável. Uma série de características doentias fez com que o homem mais conhecido e comentado nos últimos tempos, Osama bin Laden, ferisse o coração de uma nação com sua ousadia sócio-psicopática contaminada pela peste emocional. (VOLPI, José Henrique. Peste emocional. Artigo). A peste emocional está em todos os lugares, em casa, no trabalho, na faculdade, na Igreja e sobretudo, na política. De acordo com Reich (1995, p. 461), “a peste emocional é uma biopatia crônica do organismo”. Reich utiliza o termo biopatia para se referir a todas as enfermidades causadas por uma disfunção básica do sistema neurovegetativo, no qual existe um comprometimento emocional muitas vezes acompanhado de um comprometimento físico, por conseqüência. Ainda segundo Reich (1985), a origem da peste emocional se dá no berço, ou seja, quando existe um contato físico, energético e emocional precário por parte de quem faz a função materna junto ao bebê, seguido de uma educação compulsiva e autoritária, o que dá margem a uma possível desestruturação energética e de caráter, o que constitui a base para a manifestação de uma biopatia. Primeiramente, o organismo responde contraindo-se; em seguida, responde com as doenças físicas e/ou orgânicas. Reich (1985) procura explicar essa contração do organismo humano a partir do medo, um medo corporal, sentido pelo corpo todo, que se contrai como defesa. É, então, desse medo que também surge a peste emocional, que apesar de não ser transmitida de mãe para filho de maneira hereditária, “é inculcada na criança desde os primeiros dias de vida” (Reich, 1995, p. 461). O mundo já assistiu muitas vezes o resultado da peste emocional das massas, enfurecidas por uma justiça cega, como é o caso do julgamento de Jesus Crsito, ao preferir que soltassem a Barrabás o ladrão, ao invés de Jesus aquele que oferecia a paz e a cura. Incendiados pelo ódio e o falso sentimento de justiça, pessoas e grupo contaminadas pela peste emocional agem sem pensar, levadas por um falso altruísmo e a certeza de que é o certo a fazer. Foi assim na Alemanha nazista, na Itália fascista, na Rússia comunista nos Estados Unidos capitalista e em muitos outros lugares do mundo onde regimes totalitários funcionam. A peste emocional insufla no inconsciente de mentes mais fracas sentimentos e valores de opressão e morte, atingindo assim o caráter humano no seu mais íntimo.. Evidencia-se assim a celebração da morte e as maiores barbaridades, que sempre foram travestidas em nome do bem comum. Para reich os males que se encontramos na sociedade não são só o fruto do poder. Toda e qualquer forma autoritária de exercer o poder está intimamente ligada a peste emocional. Na atual conjuntura política pela qual o Brasil passa a peste emocional tem se manifestados nas mais diversas formas, principalmente nos extremos políticos. Pensamentos como a volta de ditadura, armamento da população, misoginia, elitismo e segregação são os principais sintomas da peste. O resultado disso é o poio a candidatos extremistas, que possuem discursos fortes, que taticamente dizem o que querem, simbolizando uma paternalização opressora, figuras erroneamente vistos como a salvação, não há outro, só ele pode nos salvar. A história já viu isso acontecer e o resultado não foram nem um pouco bom. |
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Maio 2023
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