(RM 12: 9-21) Paulo nos expõe o ideal cristão neste trecho de hoje, não como mandamento nem tão pouco como imposição, mas, como uma exortação, para que nossa fé e conduta sejam balizadas pelo principio do Evangelho de Jesus. A comunidade cristã em Roma era constituída ainda de muitos judeus, que estavam iniciando sua caminhada no Movimento de Jesus. Era importante que ficasse claro que a ótica cristã não estava baseada na lei do antigo testamento a lei do talião, olho por olho dente por dente, a qual se podia fazer justiça com as próprias mãos. Não foi esse o modelo deixado pelo Cristo, antes sim o da solidariedade, tanto que Fé e solidariedade são os pontos fortes e basilares destas recomendações.
Que o amor seja sem fingimento, seja verdadeiro desinteressado, algo que precisa ser copiado e praticado dentro das nossas comunidades, olhando-nos e nos vendo como irmãos e irmãs em Cristo como partes de um mesmo corpo, como se fossemos partes de uma máquina, uma estrutura na qual cada peça, cada pessoa tem uma ocupação para que todo esse corpo possa trabalhar, para que cada um desenvolva suas funções de forma a contribuir com o todo, que em nosso caso é a Igreja, a paróquia a comunidade que pertencemos. Não tem como distorcer esta exortação ela é clara e muito objetiva, cada um doe seus dons a serviço da comunidade, isso se chama discipulado, quando ouvimos o chamado a vocação devemos nos colocar a obedecer. Como podemos ser úteis? De que forma eu podemos ajudar a comunidade que participamos ou sou simpáticos/as? Isso é ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5: 13-14). É a característica do cristão, colocar-se a serviço, olhar com compaixão e solidariedade para os outros/as. A solidariedade deve ser sempre a base a estrutura do para quem quer discipular, isso não pode ser barganhado, não tem substituição, ou é ou não é, tanto que a solidariedade e a partilha não podem ser medidas, elas precisam ser generosas, é marca dos cristãos. Depois vem algo um pouco mais difícil, abençoai os que nos amaldiçoam, desejar o bem para quem nos deseja mal. Como é difícil para o ser humano, como nos exige isso, muito mais que a solidariedade, a compaixão e o perdão são algo muito caros para o ser humano, estamos tão enraizados em nosso ego, tão centrados em nós mesmos que é difícil vencer o orgulho. Estamos acostumados a revidar, agir imediatamente, é tão cultural isso aprendemos desde crianças se alguém nos bate ou faz algum tipo de mau nossa primeira reação é devolver a raiva algo tão instintivo e profundo. Não é algo que se vence assim tão rápido, demanda tempo e uma grande observação de si mesmo/a. Através da oração, da meditação e da prática de vida comunitária, agindo com empatia conseguimos alcançar melhores resultados, e com o tempo as ações ruins das pessoas já não nos incomodarão e começaremos a sentir o verdadeiro sentimento do qual Jesus nos fala que é compaixão. Outra exortação muito difícil para nós, sobretudo na sociedade des-humana de hoje, é não aspirar a grandezas, ou seja, grandes riquezas. Paulo nos instrui a subverter o princípio da acumulação tão forte no pensamento atual. A lógica vigente nos leva ao ter pelo ter e quanto mais se tem mais se quer. É quase que doutrinal isso, as pessoas aprendem desde pequenas, está no cerne de nossa educação individualista e contra evangélica. A competição é estimulada o tempo todo, parece um jogo onde cada oponente deve ganhar mais pontos e ao final, se possível, para vencer o jogo matar os outros jogadores, esta é a lógica cada vez mais desejada e praticada no mundo. Pessoas como Jeff Bezos, dono de um império milionário, que nesta semana alcançou a cifra de 200 bilhões de dólares é que são as figuras modelos a ser seguido dentro dessa proposta gananciosa da acumulação. Enquanto milhares de seus empregados ganham salários de fome trabalhando horas longe de suas famílias, lutando para sobreviver, um pequeníssimo grupo que detém o poder e o dinheiro goza de uma vida cheia de privilégios a grande maioria passa fome e necessidades, totalmente contra a lógica evangélica da partilha e da igualdade, lembrando o que disse Jesus “O reinado de Deus e Paz e Justiça.” Não podemos nos deixar vencer pelo mal, não podemos nos permitir ser seduzidos/as pelo farisaísmo e a insensibilidade, precisamos agir como pediu Jesus, resistir a maldade, pagar o mal com o bem, essa sem dúvida é a verdadeira Graça da vida Deus. Sejamos mais humanos e menos mundanos.
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(MT 14: 22-32) A passagem do evangelho que acabamos de ouvir nos revela um Jesus mais humano, este é o único momento nos Evangelhos em que Jesus perde uma argumentação, aqui os papéis se invertem e é a mulher cananeia que ensina jesus, ele sempre tem uma resposta, deste vez a resposta é dada pela mulher estrangeira. Do ponto de vista histórico teológico é preciso entender que as comunidades na época em que o evangelho foi escrito estavam passando por imensas dificuldades, disputas internas, xenofobia pois, os judeus discriminavam os gentios, lembrando que haviam ainda no seio das comunidades a questão judaizante, a discussão se os novos seguidores de Jesus, os não judeus, deviam ou não se submeter as leis e tradições judaicas. Estas discussões causaram profundas divisões nas comunidades cristã recém nascidas. Neste contexto, Jesus está fora do território de Israel e encontra-se com uma mulher estrangeira, para a época é muito subversivo, falar com uma mulher, pois a mulher era considerada objeto, posse e ainda um ser impuro, além de tudo estrangeira, isto piora muito a situação se olhada do ponto de vista dos nacionalistas judeus da época. As palavras de jesus foram duras, fortes, bem aliadas ao pensamento machista e religioso da época, pois os judeus odiavam os fenícios e suas tradições, se achavam eleitos e um povo muito superior aos outros. Jesus diz: “Não é correto pegar o pão dos filhos e jogá-lo aos cães (vs.26).” Para os judeus os povos estrangeiros eram tidos como cães, como seres imensa inferioridade. Jesus se coloca como aquele que veio apenas para os filhos de Israel. É uma passagem obscura, mas, ao mesmo tempo elucidativa porque revela a humanidade de Jesus e ao mesmo tempo seu senso de humildade e o quanto ele vai evoluindo em seu ministério. Corrigido pela Mulher sírio fenícia Jesus se emenda imediatamente, passando por cima e abolindo as severas leis de pureza ritual que proibia que judeus comecem com pagãos. Jesus torna acessível a todas as pessoas a Graça de Deus. Jesus está sempre muito atento a vida, que é pura manifestação da presença de Deus. Jesus olha com muito cuidado aos pequenos e desamparados, porque eles são os principais convidados do Reinado de Deus que é para todos e todas. Essa passagem nos leva uma reflexão, como agimos com as pessoas diferente? Como agimos com aqueles e aquelas que não estão de acordo com nossas convenções ou ideias? Muitas pessoas agem com imensa violência contra pessoas diferentes, contra outros tipos de religião que não sejam aquelas que achamos moralmente aceitável. Muitas vezes achamos melhor expor e condenar, ideias ou condutas que achamos erradas do nosso ponto de vista, as que não aceitamos ou que nosso filtro do ‘senso comum’ não acham adequadas, então, repudiamos com tal força e veemência o que não entendemos e não queremos entender ou por algum motivo nos incomoda. É mais fácil do que aceitar e conviver com o diferente. Jesus nos faz um convite a sermos integrantes dessa nova ideia deste novo modelo de vida, renunciando o preconceito e toda e qualquer ausência de amor nos despindo de qualquer orgulho afastando de nosso convívio o egoísmo e a ganancia para vivermos o plano de Deus que é vida, eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia do grego (περισσὸν) perisson, muito além da medida a vida que ele nos oferece é plena, digna onde todas as pessoas são iguais diante de Deus, não tem judeu nem grego, pobre ou rico, homem ou mulher pela Palavra que é viva e liberta Jesus revela o mistério mais profundo da vida que é a alegria de vive-la em toda a sua intensidade e simplicidade. Deus está na alegria. Segundo Rubens Alves, o diabo está sempre vestido de paletó e gravata, ele não sabe contar piadas e nem sabe dançar: é o espírito da gravidade. Deus ao contrário, a oração já começa no riso. Aqueles que levam as coisa tão seriamente e tudo com profunda gravidade estão muito fora da Graça de Deus, se tornam inquisidores julgando e condenando a tudo e todos. Não nos esqueçamos Deus é amor onde há amor, Deus aí está. co (MT 14: 22-32) No capítulo 8 do Evangelho de Mateus Jesus acalma a tempestade, na leitura de hoje, todo o acontecimento se dá enquanto em meio a uma forte e violenta tempestade. É como se Jesus estivesse ensinando seus discípulos que haveria momentos que as futuras comunidades passariam por momentos difíceis, turbulências, perdas, perseguições. Em nossa vida parece haver momentos em que tudo dá errado e acabamos sendo tomados pela ansiedade e pelo medo. Normalmente temos medo daquilo que não conhecemos, neste momento muitas pessoas estão com medo do futuro, diante de tantas incertezas. Famílias estão separadas pelo distanciamento físico ao COVID 19. Filhos e filhas estão longe de seus pais, muitas famílias passaram o dia dos pais separadas, somos impedidos de abraçar e beijar as pessoas que amamos, de sentir o calor e o conforto do abraço. Porém não devemos nos esquecer que Deus está presente e sempre podemos nos sentir seguros por sua mão. Percebendo que Pedro tinha medo Jesus diz: Coragem não tenha medo, eu estou aqui, segura na minha mão, vem e caminha comigo. Ele queria transmitir força e segurança, Pedro podia confiar porque ele estava ali. Assim é Deus em nossa vida, precisamos acreditar e confiar em sua infinita misericórdia e grande amor por nós. Pedro não sabia quem estava ali, se era Jesus ou um fantasma, mas ele queria comprovar que também podia caminhar chegar até lá caminhando pelas águas sem certeza alguma, sem terra firma chão seguro, não haviam argumentos, apenas fé que muitas vezes se torna fragilizada. Assim deve ser quem quer caminhar no Movimento de Jesus nos momentos de dificuldades e angústias, podemos falhar e assim como Pedro duvidar da fé, mas logo vem Jesus e nos anima a caminhada. A Fé é o assunto desta passagem do Evangelho, trazendo para a contemporaneidade, o mundo tem experimentando uma imensa crise de fé. A ciência e a tecnologia nos trouxeram um modelo de mundo que quase não tem deixado espaço para fé. São tantas ocupações e possibilidades que as pessoas não tem mais tempo para fé, a religião ficou em segundo ou até terceiro plano. São tanto ídolos para se render cultos nos dias atuais, que não tem sobrado tempo para sentir o sagrado e o espiritual. Tantas coisas para se preocupar que já não é mais tão fácil responder a pergunta que Jesus fez a Pedro antes de o salvar, Por que duvidastes? Precisamos dar lugar para o mistério, para o santo, para as coisas de Deus. O Mistério aponta o sagrado que revela como Deus age de forma simples em nossas vidas. O mistério não precisa ser compreendido e sim vivido. O Amor paterno/maternal de Deus preenche nossa vida e nos ocupa da Graça que é dispensada através da oração, da meditação e contemplação da vida como mistério da salvação e redenção humana. A base da fé é crer e viver confiantes em Deus apoiar nossa vida no evangelho encarnado que liberta, olhar e cuidar uns dos outros principalmente os mais necessitados entregando-nos a Deus com absoluta confiança e comprometimento com sua mensagem. São Paulo em Segundo a Timóteo expressa bem essa confiança quando diz: Eu sei em quem pus a minha confiança (2 Tm 1,12). Lamentavelmente neste final de semana estamos ultrapassando a marca de mais de 100 mil vítimas do corona vírus no Brasil, fruto da falta de políticas públicas de prevenção e saúde e de um governo despreparado, quem sofre são as famílias mais pobres. Um relatório do CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) prevê que o número de pessoas em situação de pobreza aumentará 45,4 milhões em 2020, com o que o total de pessoas em situação de pobreza passaria de 185,5 milhões em 2019 para 230,9 milhões em 2020, número que representa 37,3% da população latino-americana. Dados como estes são alarmantes. Como cristãos e cristãs precisamos nos preocupar com essa situação, percebemos que o Reino de Deus que tanto ouvimos dos evangelhos ainda é uma realidade muito longe de acontecer. Como comunidades de fé nosso podemos compactuar e nem ficar indiferentes ao pecado social, não podemos nos permitir tantas pessoas sofrendo pela desigualdade, tanta riqueza e abundância deixada pelo criador para todos e todas nas mãos de poucos enquanto a realidade de muitos filhos e filhas de Deus é de pobreza e fome, não é isso que Deus quer, a inclusão de todos no projeto da salvação humana é fundamental. (Mt 14: 13-21) No capítulo 14 de Mateus podemos observar claramente o contraste existente entre o baquete dos poderosos que matam João Batista e oprimem os mais pobres e a multiplicação dos pães e peixes mostrando-nos que o projeto de Jesus que é de amor, partilha e vida. O texto nos diz que Jesus teve compaixão das pessoas, porque estavam doentes e tinham fome. Ele não se omitiu, poderia ter saído e se ocultado, mas, em sua humanidade Jesus sentiu-se tocado, comovido pela situação. Quantas vezes nos sentimos tocados ou comovidos por ver pessoas passando por necessidades e não temos compaixão? Muitas vezes estamos tão imersos no nosso próprio mundo que nos tornamos apáticos diante de situações de injustiça. A loucura do dia a dia, nossas rotinas tão cheias de compromissos nos deixam tão inseridos dentro de nós mesmos que não enxergamos ao nosso redor as necessidades do outro e da outra. Jesus realiza o milagre da partilha, como sinal sacramento do amor de Deus é um ato Eucarístico, que revela toda a Graça de Deus sobre os pequeninos do Reino. Não existiu nada de mágico de super poderoso, foi apenas a partilha de tudo que se tinha, cada um doou o pouco que tinha e esse pouco tornou-se muito, daí a comunidade de Mateus nos dá cinco mais dois que é sete dentro da cabala judaica, sete significa plenitude. Jesus nos ensina que a solidariedade deve ser sempre o primeiro pensamento dos cristãos. Não há espaço para orgulho e egoísmo no projeto de Jesus, apenas aqueles que conhecem a Deus podem entender, não podemos nos dizer participantes desse projeto se compactuamos com a lógica do mundo individualizada que separa e nos aliena do Deus do amor. Temos assistido ultimamente a tantas injustiças, tanta violência ódio e preconceito. Temos visto pessoas que se dizem cristãs, que se arrogam como portadores da palavra de Deus espalhando ódio e divisão totalmente contrário ao preceito de amor de Jesus. Como eu posso me dizer cristão se eu me incomodo com um comercial de perfume do dia dos pais que é realizado por um homem trans? Que mensageiro sou eu da palavra de Deus se julgo e envio para o inferno outra forma de amor que não seja aquela que eu acho que é a tradicional única e verdadeira? Posso me colocar no lugar de Deus sentando-me no trono da injustiça para julgar quem eu acho que por suas escolhas me ofende? Será que só existe uma única forma certa de amar? Então teria Deus errado ao criar tanta diversidade no mundo? Não nos cabe julgar, não julgueis para não serdes julgados (Mt 7,1). O julgamento só pertence a Deus. Ao invés de nos incomodarmos com a decisões das pessoas, deveríamos nos incomodar com a injustiça e o egoísmo, com as milhares de pessoas que passam fome no mundo, com a destruição do meio ambiente com a violência e a marginalização do ser humano, isso sim deveria incomodar a todos nós. Que o Senhor possa abrir nossas mentes e corações para enxergar o verdadeiro mal que nos leva a violência e a destruição que é a falta de amor. Amém. |
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