Como Igreja precisamos entender primeiramente o pensamento teológico e qual o sentido da Bíblia enquanto base de nossa fé. Existe um pensamento de que a Bíblia é a palavra de Deus e tudo o que está escrito nela procede de Deus, a grande maioria dos cristãos pensa e acredita assim, e isso leva a uma grande confusão e fundamentalismo religioso. A bibliolatria, dogmatização e máxima atenção a palavra escrita, como única fonte, recebida diretamente de Deus, como se ela expressasse exatamente o pensamento de Deus, tem causado intensas divisões não só na Igreja, mas, entre as pessoas. Mas aí vem a pergunta, qual o sentido então das Escrituras para Igreja? O teólogo anglicano Fredereick Denison Maurice nos ajuda a entender. Para Maurice proclamar que a Bíblia era a Palavra de Deus é mais que exagero, pois ele achava que a Palavra de Deus estava muito acima das Escrituras, como ensinava o próprio São João e o reformador George Fox. A Bíblia contém sim a Palavra de Deus que foi vivenciada na história e no contexto comunitário, as experiências que aquelas comunidades viveram escreveram, como eles sentiam e se relacionavam com Deus, em muitos casos através de uma relação de amor e ódio, dependendo de como eles entendiam as ações humanas de Deus ou o amavam ou o detestavam e procuravam outras formas de Cultos ou apenas se esqueciam de sua mensagem de libertação.
A Bíblia é nosso referencial de fé, ela é de onde parte nossa espiritualidade como cristãos que querem viver o Reino de Deus e todo o ideal que esse Reino evoca. Assim como a tradição, e os escritos dos Santos Padres e Madres da Igreja, assim como os Credos são os testemunhos das comunidades de fé. Devemos nos basear sempre nas escrituras, principalmente em nossas comunidades de fé, que devem viver e experienciar a fé através das escrituras e da ação profética que ela deve promover na sociedade. As escrituras reafirmam nossos ideais que devem estar calcados, sobretudo no contexto da solidariedade, da partilha e do amor fraterno, afastando todo e qualquer pensamento que gere individualismo e exclusão, que violente o mandamento máximo deixado por Jesus em João 15,12. Quando usamos os textos bíblicos para a transformação humana, como metanoia para todo tipo de ação que gera exclusão e violência contra o outro e a outra, então estamos nos servindo da palavra de Deus que é viva e se encontra na vivência comunitária dos irmãos e irmãs de fé. Aí não causamos danos e nem corremos o risco de distorcer a palavra de Deus da qual Jesus explicita claramente na sinagoga de Nazaré (Lc 4,21s) revelando o modelo da sua, enquanto Deus encarnado e da nossa missão enquanto seguidores dele. Ele é o modelo certo de como o homem e a mulher cristã devem ser. Deixando claro que a Palavra de Deus precisa ser transformadora, ela precisa causar mudanças nas pessoas e tudo o que ela nos ensina é a viver essas transformações em na nossa vida e sobretudo, como Igreja que caminha em busca do reino que não é deste mundo, ou seja, ele não está na matéria e nem tão pouco nas coisas passageiras deste mundo, ele está no espirito, na ação e no pensamento daqueles que conseguem entender a mensagem do Pai.
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Maio 2023
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