O conceito de Deus e de religião tem se tornado cada vez mais subjetivo, cada um julga que conhece a Deus da sua forma. A forma na qual estamos vivendo o homem moderno, inserido nos usos e costumes da sociedade atual, ditam as modas e a forma privatizada que as pessoas estão utilizando para o “encontro com Deus.” Essa relação moderna que está se estabelecendo com o divino, cada vez mais particular e personalizada, onde é Deus que tem que se flexibilizar conosco, dando a falsa ideia de que religião e espiritualidade são a mesma coisa. Erroneamente as pessoas pensam que não precisam mais ir a Igreja, porque podem orar em casa, segunda ideia moderna não precisa mais me deslocar porque Deus está dentro de mim. Efeitos do estilo e sistema individualista que vivemos, somos obrigados a trabalhar e temos menos tempo para o sagrado e a vida comunitária, tão necessária não só espiritualmente como psicologicamente.
O que ocorre é a dessacralização de Deus, tudo pode ser Deus, o contato com Deus está em tudo, eu não preciso mais orar, meditar e fazer boas obras e muito menos assistir ao Culto ou a Missa. Erroneamente algumas pessoas confundem certas correntes espiritualista com religião, com a vida em Deus. O teólogo Lactâneo (séc IV) e Agostinho de Hipona descreveram o sentido da palavra religião, religar o homem a Deus. Não obstante estamos vendo esse novo homem e mulher se distanciando de Deus, procurando um Deus mais simples, menos exigente, prático para a vida rápida e sem tempo dos dias atuais. Daí o esvaziamento da igreja e a criação de novas formas de culto, nem sempre calcadas na verdade cristã. Daí as várias doenças psíquicas, como transtorno bipolar e depressão, tão conhecidas de nossa atual sociedade, esvaziada de Deus e ‘cheia de espiritualidade’ totalmente sem sentido que no final em nada acrescentam ao ser. Não estou aqui falando de alteridade, ou seja, respeito a diversidade e ao diferente, mas sim a essa lambanças de pseudo-espiritualidade, correntes filosóficas e religiosas que mais confundem e dogmatizam do que esclarecem e . O mundo de hoje, é muito diferente daquele em que nossos pais viviam, a resposta a algumas perguntas que no passado não eram acessíveis, agora estão na ponta do dedo, em smartphones e tabletes. Toda essa evolução não trouxe respostas a algumas inquietações de hoje, não respondeu a perguntas que a religião respondeu a muito tempo, qual o sentido da vida, e o coração do homem continua inquieto. A busca de equilíbrio para alma continua atormentando o ser humano. Já na época de Santo Agostinho haviam dúvidas em sua alma, conforme descreve em Confissões: “ Todavia esse homem, particulazinha da criação, deseja louvar-vos. Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós e o nosso coração, vive inquieto, enquanto não repousa em vós” ( Santo agostinho, 1966 p 27). Estamos assistindo um grande crescimento e valoração da razão instrumental tecnológica e sistêmica, em detrimento da busca profunda de Deus, para dar sentido a vida. Tornou-se objeto de ambição humana o modelo de vida prático, econômico e vazio. O resultado disso é um ser humano vazio e sem Deus, hominizado como disse o especialista em religião Urbano Zilles (2010 p. 12): No campo do conhecimento, as modernas ciências experimentais transformaram totalmente nossa visão de mundo e conduziram ao comportamento racional perante a realidade. Permanece e prevalece o que resiste à critica nacional. A ciência e a técnica dão ao homem um suposto senhorio sobre as coisas para a sua manipulação e o planejamento racional. O resultado é um mundo hominizado e secularizado, despido do vestígio de Deus. Esse ethos (modo de vida) moderno destrói as relações sociais, individualiza e subjetiva Deus, relegando a nossa relação com Deus a se tornar cada vez menor ou até mesmo abolindo Deus. Entronizou-se a razão crítica como a norma fundamental da sociedade. O malogro desse projeto revela-se pelo fato de a razão fracassar na tarefa de criar uma sociedade humana, igual, fraterna, livre. Além do mais, ao afastar a religião da função estruturante e normativa da sociedade e entrega-la a subjetividade das pessoas, terminou por provocar um fenomenal surto de denominações e grupos religiosos. Em vez de uma grande religião, de um único universo simbólico tradicional ou de uma razão com pretensões religiosas, assistimos emergir de infinitas manifestações religiosas, novos movimentos religiosos, autônomos, independes, flexíveis, criativos em numero sempre maior. (Libânio 1995). O que vejo como extremamente negativo para a experiência humana com Deus, os frutos estamos colhendo, guerras, doenças, violência e outros. Nossas próximas gerações correm o perigo de não conhecer Deus, de não conhecer o sagrado, de experimentar algo superior a esta dimensão humana. Matando Deus, o ser humano fica vulnerável e suscetível a toda e qualquer ideia nova, não fundamentada e racionalizada pela sociedade de consumo.
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Maio 2023
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